Processamento Visual

Atribui-se a Visão papel preponderante na Aprendizagem, sendo esta dependência estimada entre 60 a 70 % até os 9 anos de idade e permanecendo como sentido maior da adolescência à terceira idade e quando falho, impactos inquestionáveis na segurança e qualidade de vida se fazem sentir.

A dinâmica relação entre desenvolvimento visual, habilidades viso motoras e perceptuais quando bem integradas proporcionam a base ideal para a aprendizagem. Nesta, ocorre ativa participação do indivíduo que precisa direcionar o olhar e sustentar o foco de sua atenção para manter a aquisição contínua de informações do meio ambiente.

Comparando a sistemas de informação, é como se o globo ocular e seus aspectos analógicos como refração, pressão intraocular, alinhamento oculomotor, etc. fossem nosso hardware e nosso processamento visual a informação digital via software.

Os distúrbios visuais associados aos distúrbios de aprendizagem, devem ser avaliados em condições dinâmicas através de testes relacionados às habilidades como leitura, cópia e escrita, equilíbrio, deambulação, na pratica de esportes e por outras atividades da rotina diária que exigem forte integração visomotoras e sensorial.

Esta analise é fundamental porque a visão se constrói a partir da identificação em detalhes de cores, formas ou ambas associadas a informações de movimentos e de formas em movimentos – e déficits nestes sistemas afetarão a aprendizagem. Como exemplo, temos na leitura, os movimentos oculares rápidos ou sacádicos, intercalados com uma estabilização temporária do foco para analise da informação – integrando assim habilidades de diferentes centros corticais.

Processamento Visual e as dificuldades de aprendizagem

As dificuldades de aprendizagem podem estar associadas a diversos fatores, como emocionais, cognitivos, linguísticos e motores, pois, quando se trata da aquisição da linguagem escrita, habilidades cognitivas, linguísticas e motoras são necessárias, já que ler e escrever “exige dos escolares a capacidade de decodificação das palavras e a ação motora adequada para a execução do ato motor da escrita”. (Capellini, S., 2008)

Neste sentido, uma avaliação bastante criteriosa se faz necessária para se chegar a um diagnóstico e tornar possível o direcionamento de um tratamento adequado as dificuldades apresentadas.

Sabemos que para o desenvolvimento da leitura e escrita convencional, é necessário o desenvolvimento de algumas habilidades visuais. Por mais que possa parecer que a visão é inata ao ser humano, não basta capturarmos a imagem, temos que ser capazes de integrar está a sua representação e significação no campo simbólico e com todas as outras atividades sensoriais a qual encontra-se ligada (cheiro, tato, paladar, som). Desta forma, podemos dizer que aprendemos a ver com todos os nossos sentidos.

Quando falamos em dificuldades de aprendizagem, um dos fatores comumente associado, é a presença de falhas no desenvolvimento da visão. Esta pode ser decorrente de alterações periféricas, ou seja, relacionadas aos órgãos da visão. Neste sentido, enfatizamos a importância da avaliação oftalmológica em crianças que estão ingressando na vida escolar.

Mas, também podem ser decorrentes de alterações no sistema nervoso central, relacionados ao processamento visual, neste sentido, faz-se necessário a avaliação das funções visomotoras e visoespaciais, a qual pode ser realizada por profissionais que atuam com diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem, tais como fonoaudiólogos e psicopedagogos.

O desenvolvimento da estruturação visomotora e visoespacial tem início em bebês com apenas poucos meses de vida. Primeiramente, a sua atenção é chamada pela captura visual do objeto, principalmente por meio de suas cores, assim, o bebê irá movimentar todo o seu corpo para atingir o objeto que será explorado inicialmente por meio do tato. Podemos observar que sua atenção ao objeto permanecerá somente enquanto ele estiver manipulando-o e, desta forma, a coordenação mão-olho será estimulada e desenvolvida. Este jogo de vivências e explorações motoras globais e visuais propiciará o desenvolvimento visomotor e visoespacial, o qual será pré-requisito para uma aquisição da leitura convencional.

Então, para que se dê início ao processo de aprendizado da leitura, será necessário que a criança tenha desenvolvido algumas habilidades visomotoras. Este desenvolvimento dependerá tanto da estimulação do meio ambiente, quanto da maturação neurológica. Para ler, a criança terá que fixar os dois olhos em um mesmo ponto, saltitar de um ponto para outro sem perda da orientação direcional, perseguir com os olhos um ponto em movimento (letra, palavra, frase ou linha) e rodar os olhos para qualquer direção.

Além disso, será necessário que a criança tenha desenvolvido outras habilidades como: a percepção e discriminação de semelhanças e diferenças, constância de percepção de forma e tamanho, percepção de figura-fundo, memória visual, relação e posição espacial, closura ou fechamento visual, coordenação e velocidade visomotora.

Caso a criança apresente dificuldade em algumas das habilidades citadas acima, a literatura apontará alguns sinais que podem ser percebidos ainda na pré-escola:

– Dificuldade em reconhecer que uma letra é sempre a mesma, independentemente de aparecer em tamanhos, cores ou fontes diferentes;
– Lentidão em aprender letras e números;
– Dificuldade em discriminar letras semelhantes (p-b; d-q);
– Realizar cópias com inversões, substituições e omissões por apresentarem dificuldade em reconhecer a sequência das letras (vai – via);
– Confusão dos conceitos de tamanho, forma e distância;
– Déficit na memória visual, acarretando em lentidão no aprendizado da leitura.

Caso essas dificuldades não sejam estimuladas e sanadas, no período escolar poderemos observar dificuldade para:

– Reconhecer;
– Organizar;
– Interpretar e/ou
– Recordar letras, palavras, números, diagramas, mapas, gráficos e tabelas.

Para finalizar, é importante ressaltarmos que as dificuldades no processamento visual também podem estar associadas aos distúrbios de aprendizagem, tais como, dislexia, disgrafia e discalculia. Evidenciando mais uma vez a necessidade de procurarmos profissionais capacitados para a realização de avaliação, diagnóstico diferencial e direcionamento do tratamento mais adequado, quando temos diante de nós uma criança ou jovem com dificuldade de aprendizagem.